Hoje nesse texto tenho uma convidada especial, uma amiga não muito antiga que a chamarei de Clara porque prefere não se identificar.
Clara sempre teve “medo”da maternidade, não teve uma infancia facil. Passou por alguns episodios de alcoolismo na familia que acarretaram em ofensas, grosserias, falta de amor, carinho e dialogo. Ela dizia que nunca iria ser mãe para que seu filho não sofresse como ela, que não enfrentasse bullying (porque em sua adolecência ganhou peso) e que não fosse inseguro sentindo-se com baixa auto estima.
O tempo foi passando e no decorrer da vida houveram algumas decepçoes e aprendizados mas, por fim, Clara conheceu o “Cara” que ela considerou que seria um excelente pai, começou a pensar e se questionar o por que não ter um filho. Afinal, ter cachorros já não eram suficientes mediante a um amor tão grande que tinha guardado no peito que precisava ser desabrochado, visto e sentido por ela mesma. Pois bem, decidida tentou e engravidou! E olha que não demorou muito... ela não acreditava, estava tudo certo, mas, infelizmente na nona semana de gestação descobriu que não haviam mais batimentos. Foi como perder o chão.
Depois de muitas sessões de terapia e o tempo passando, Clara resolveu tentar novamente. Precisava ser mãe! Ela tinha que viver essa experiência. Parecia que somente seria completa como mulher se isso acontecesse. Na segunda tentativa (após 6 meses) bingo!! Um lindo menino surgia... A gravidez foi excelente, tranquila, serena. Ela não sentia nada exceto cansaço a partir do setimo mês. Sua saude estava otima, mas seu emocional sempre em constante alerta. Vai e vem de pensamentos se a conseguiria ir ate o final na gravidez e por mais que TODOS os exames dissessem que o bebe estava bem ela sempre estava insegura com algo. A inseguraça era tanta que não conseguia conversar coma barriga para não criar expectativas, então ela cantava... ahh e como cantava... Somente acreditou que tudo estava OK quando seu marido no parto, aproximou o bebe no seu rosto e ele involuntariamente, colocou a maozinha no rostinho da mamãe... ahh foi o auge do “ufa.. Graças a Deus”. (parto cesarea).
Após o parto, Clara foi levada para uma sala de recuperação. A ideia é que a mamãe descanse nesse momento. O repouso durou aproximadamente 3 horas e nesse tempo sua cabeça estava a mil, ela só pensava: “e agora? Será que dou conta? O que vou fazer? Meu Deus, era isso mesmo? Eu tenho um bebê e não sei o que vou fazer com ele!!”
Os quatro dias no hospital não foram muito agradaveis para Clara. Seu corpo demorou para entender que o bebê não estava mais la e seu leite não descia. Teve muita dificuldade para amamenta-lo e consequentemente, no hospital mesmo, seu bebe precisou de complemento. Ai veio o primeiro sentimento de impotencia de Clara... sem contar alguns comentarios em visitas “todas conseguem porque o leite dela não desce? só o famoso Colostro? Sua auto cobrança a massacrava cada vez mais... chorava na madrugada em silencio enquanto seu marido dormia no sofa do quarto pensando o quanto era incapaz...
Dividiu com sua medica e ela receitou um medicamento que ajuda o leite a descer e acalmar os animos... Pois bem, ao chegar em casa e a primeira semana de vida do bebê ela entrava em parafusos. Sentia uma dor até nas axilas e não entendia o que estava acontecendo. Seus peitos inchados, massacrados, esfolados e aquela tristeza persistia... e o pior... quando dizia que estava um pouco triste, era o fim... escutava de tudo “imagina!! Vc tem um recem nascido, isso é vida, é comemoração, é inaceitavel sua tristeza”. Ela olhava o bebê e pedia perdao a Deus pelo que sentia, que não queria sentir aquilo, mas, que estava sentindo.. pedia e clamava para que ele confortasse seu coraçao.
O que mais potencializa o Baby Blues é que ninguém e principalmente os familiares entendem e a própria mãe acaba concluindo que esta louca. É como se ela fosse a única pessoa anormal da casa, onde todos estao em perfeita harmonia e ela totalmente deslocada, desamparada e sozinha.
Especialistas acreditam que essa situaçao esteja ligada às mudanças hormonais da primeira semana depois do parto. O corpo esta se adaptando e isso inclui se recuperar da enorme dose de adrenalina que recebeu quando o bebê chegou. Não acontece com todas as mulheres, não é uma regra, depende de cada organismo, estado emocional, histórico (por isso fiz uma introduçao rapida da Clara) enfim, um conjunto.
A fase do Baby Blues da Clara durou por aproximadamente 3 semanas. Em media (de acordo com os especialistas variam da primeira até a terceira semana após o parto). Os hormonios vao se estabilizando na medida em que começa a produçao do leite materno. Importante ressaltar que o durante o Baby Blues a mamãe tem momentos de alegrias e felicidade. Caso os sintomas de tristeza, melancolia persisitirem, pode ser desenvolvida uma depressão pos parto, o que requer acompanhamento médico e psicológico.
O que a Clara recomenda para quem esta lendo esse texto, principalmente se for um familiar ou se fara uma visita a um bebe que possui dias de vida: não julgue! Não dê palpites! Ouça! Converse! A mamãe precisa falar, expor seus sentimentos. O isolamento apenas potencializa a tristeza e melancolia e lembrem-se: tudo passa 😉
Clara tem um menino lindo de quase 2 anos.
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